turismo e aventura
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Cavernas apresentam saídas muitas vezes apertadas
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Pixações são atos de vandalismos de parte dos turistas
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Foto: Jonycunha
A Caverna do Diabo apresenta uma boa estrutura ao turista
viagens de aventura
Foto: Jonycunha
As paisagens impressionam dentro da Caverna do Diabo
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Caverna: uma aventura fascinante

Sexta, 28 Janeiro 2011 17:27

O espeleoturismo tem crescido muito nos últimos anos, no entanto sua prática requer cuidados. O repórter Eduardo Bernardino é biólogo e dá boas dicas aos que desejam se aventurar pelas cavernas

Refrescar-se nos rios praticando rafting, cair no mar para um belo dia de surfe, procurar paredões para escalar, buscar novos picos de águas cristalinas para um belo mergulho... O turismo de aventura vem sendo cada vez mais procurado por pessoas de todas as idades, e uma das modalidades que tem crescido muito é o espeleoturismo.

Eu me apaixonei pelo mundo subterrâneo há alguns anos, ainda durante a graduação em ciências biológicas, e acredito que poucas paisagens são tão belas quanto as que podem ser vistas frente a uma caverna, com entradas que vão desde uma passagem estreita até uma abertura com mais de 200 m de altura.

Uma vez dentro de uma dessas cavidades, a beleza é inigualável, seus salões internos apresentam desde grandes e robustas estalactites e cortinas até os pequenos ninhos de pérolas ou as delicadas jangadas e flores de aragonita – tudo resultante de processos químicos de dissolução, deposição e cristalização de minerais durante centenas ou milhares de anos –, cachoeiras e rios subterrâneos parecem saídos de um livro de fantasias, animais altamente especializados para viverem num ambiente tão particular saem de frestas nas paredes. A emoção cresce a cada passagem para um novo salão e a toda hora a luz da lanterna nos mostra um novo mundo.

Paixão à parte, o espeleoturismo mostra-se como uma opção de turismo sustentável, porém ainda temos muito trabalho a fazer para regulamentar a atividade de modo que não agrida o meio ambiente e possa ser explorada com responsabilidade. São muitas as pessoas que procuram por esse tipo de atividade, algumas mais aventureiras, dispostas a rastejar por passagens estreitas, descer de rapel rumo ao desconhecido, mergulhar por túneis escuros, mas há também o turismo religioso, realizando cerimônias em algumas cavidades, e mesmo o turismo mais tradicional, onde as pessoas preferem manter o corpo menos “encharcado” de adrenalina.

Seja qual for o seu caso, a questão é: não existe visita à caverna que não interfira em seu delicado equilíbrio. Para minimizar esses impactos já existe plano de manejo para turismo em algumas cavidades, indicando até onde uma caverna pode ser visitada, quantas pessoas podem entrar por vez, por onde devem andar etc. Afinal, cavernas muitas vezes são fundamentais para recarga de aquíferos e importantes sítios arqueológicos e paleontológicos, com pinturas rupestres e fósseis, além de todas elas serem laboratórios naturais nos quais podemos aprender muito sobre evolução, interações ecológicas, formação geológica...

O turismo em cavernas causa, principalmente, compactação do solo, poluição do ar, solo e água, introdução de organismos, descaracterização da paisagem devido à construção de “vias” de visitação, desmatamento no entorno, descarte inapropriado de lixo (dentro das cavernas e ao seu redor), barulho que afugenta os animais ou até os espanta de seus abrigos (assovios, gritos, falar alto), sistemas de iluminação que alteram a temperatura do local e causam o aparecimento de fungos em rochas, depredação de espeleotemas. Num ambiente tão sensível, todo cuidado para causar o mínimo impacto ainda pode ser pouco.

Cartilha do espeleoturista

Em minhas “cavernadas” pude ver, com muita tristeza, algumas barbaridades contra a natureza, mas também presenciei alguns erros cometidos por simples falta de informação, então acho que é minha obrigação fazer alguns alertas sobre como minimizar os impactos causados por visitação.

Alguns hábitos são extremamente importantes dentro de uma caverna: não retire absolutamente nada do lugar; ande somente pelos locais que já estão pisoteados, evitando compactar novas áreas; vá em pequenos grupos (mas nunca sozinho); se for tirar foto dos animais com o uso de flash tente concentrar as fotos em uma única máquina pra diminuir a perturbação (imagine-se num lugar completamente escuro e de repente várias pessoas começam a disparar flashes em sua direção); não toque nos espeleotemas (estalactites, estalagmites, cortinas, jangadas, travertinos...), pois isso vai alterar suas formação; visite os lugares já preparados para receber turistas e procure sempre guias treinados para lhe acompanhar nas empreitadas. Não se arrisque, pois o resgate em cavernas é extremamente complexo e pode levar dias (muitos acidentes podem ser evitados pelo simples uso de equipamentos básicos de segurança, como capacete, lanterna, calçado adequado).

Muitos atos que podemos chamar realmente de vandalismo são praticados dentro das cavidades, portanto: não escreva nas paredes; não fume dentro de uma caverna, já que a pouca circulação de ar não vai deixar a fumaça se dissipar, pelo mesmo motivo não acenda fogueiras ou tochas nestes lugares, nem ande de moto dentro deles (sim, uma vez alguém entrou de moto em uma caverna em Minas Gerais e a fumaça e o cheiro do combustível permaneceram lá por meses); não jogue lixo de nenhuma natureza e nem deixe seus dejetos dentro de uma caverna e, se você é um operador de turismo, não leve dezenas de pessoas ao mesmo tempo para visitar uma cavidade apenas visando lucro, lembre-se que o mais importante é a preservação do ambiente para que outras pessoas possam desfrutá-lo.

O espaço é um pouco curto e há muita coisa sobre cavernas a ser tratada, com certeza voltarei a tocar no assunto. Por enquanto, se você tem muita vontade de conhecer o fantástico mundo subterrâneo tome muito cuidado porque é altamente viciante, se quiser ir além do turismo procure um grupo de espeleologia sério próximo de sua cidade e tenha uma boa "cavernada".

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